Desde do último dia 16, escancaram-se nas páginas dos jornais a relação promíscua vivida entre o governador Sérgio Cabral e um dos tubarões da construção civil nacional, Fernando Cavendish, presidente da Construtora Delta.
A queda do helicóptero desnudou mais uma farra corriqueira do governador, useiro e vezeiro de escapadas no jato do seu amigo Eike Batista, para uma festa de arromba num resort em Porto Seguro.
Muito além da simples tragédia pessoal do governador, ela pode marcar o fim de sua carreira política como conhecemos, isso se pegarmos leve, porque a quebra de decoro pode levar até um processo para todos os envolvidos.
A começar pelo fato que não fica bem um funcionário público receber benesses de fonecedores do estado, isso é lei federal perfeitamente aplicável no caso dele, fosse ele um funcionário público de carreira a essa altura estaria perdendo o cargo e o emprego.
Mas infelizmente no Brasil essas coisas se varrem para baixo do tapete, afinal de contas, na política, paparicação de empresário faz parte da moeda de troca, a maioria destes "representantes do povo" sucumbem facilmente aos seus baixos instintos aceitando subornos, favores, e nos casos mais renitentes, extorsões e ameaças.
Infelizmente estamos cada vez mais longe da época que se um político queria medir sua popularidade ele ia a pé ou de bonde para o trabalho, lembrando que quando a capital federal era aqui no Rio de Janeiro, muitos políticos moravamo no Hotel Serrador em frente ao Palácio Monroe, ou nas adjacências da Rua Senador Dantas onde existiam (e ainda existem) vários hotéis que hospedavam vários deputados e senadores de outros estados.
O próprio Getúlio, quando queria pressionar o Congresso fazia um simples teste de popularidade, saía do Palácio do Catete a pé até o Monroe, seguido por uma multidão, ou então pegava um bonde, não raro um senador ou deputado fazia uso desse transporte como um cidadão comum, incógnito, hoje eles não têm mais coragem de fazer isso.
Agora eles andam em carros blindados, helicópteros, aviões executivos, quando foi a última vez que você viu um senador ou deputado federal na fila de um check in de aeroporto? Geralmente ficam numa salinha reservada dos olhares curiosos, e não raro embarcam em aviões fretados ou jatos particulares "gentilmente " cedidos por lobistas.
Tudo tem um custo, um senador vale um milhão, um deputado uns 500 mil, um vereador se compra com troco de pinga, uns 20 mil paga, tudo para ter aquela obra aprovada, aquela lei liberada, aquele embróglio jurídico destravado com um "telefonema amigo" para o magistrado encarregado ou o superior dele, e assim vai funcionando a bananalândia conhecida como Brasil.
Brasil vem de brasa, a cor da seiva usada para tingir tecidos, cor da realeza, cor do sangue, sangue que está faltando no povo brasileiro.
Sofremos um estelionato eleitoral, o governo está fazendo de tudo para proteger os grandes eventos, a ponto de abrir mão do Creative Commons, a ponto de estar estudando um AI-5 digital para impedir a livre manifestação na internet, tudo para proteger direitos de lucros de empresas corruptas como COI e FIFA.
Eu falei empresas? Sim, empresas, nada mais do que isso, são empresas que coordenam, realizam e divulgam eventos esportivos, são supranacionais, recebem facilidades do mundo inteiro em troca de deixar governos "bonitos na foto".
O esporte em si é mera fachada, o que importa por trás de tudo são obras, direitos de imagem, direitos de transmissão, propaganda, marketing, muito marketing, tudo para viabilizar um simples joguinho de bola ou uma atividade esportiva que em sua essência poderia ser praticada em qualquer lugar.
Logo, um governo, se entregar a uma aventura como essa, que já se mostrou desastrosa para muitos países, como a Grécia ou a África do Sul, é a prova cabal que ele não trabalha em prol do povo, mas sim em função do capital, e o pior é que quem trouxe esses eventos para cá foi justamente um operário que virou presidente.
Acho que está na hora do povo brasileiro acordar, exemplos lá fora não faltam, a Grécia está na pior por contas das dívidas contraídas nos Jogos que realizou, a África do Sul não conseguiu sair do atoleiro social em que vive, então o que pensar de um país imenso como o nosso, com um monte de demandas sociais não atendidas, com um povo pobre com baixos níveis de consumo e escolaridade, o que farão com os equipamentos esportivos inúteis após os Jogos e a Copa? Temos demanda para eles?
E o que pensar nos custos? Não só das obras, mas dos serviços? Essas empresas, FIFA e COI, direcionam empresas para prestar serviços, cujos preços não podem ser discutidos, elas, e apenas elas, pdoem realizar tais serviços para o evento.
Se vivêssemos em um mundo ideal, essas obras estariam sendo pagas com dinheiro privado, o governo poderia, por exemplo, dar o terreno, e em troca receber alguma benesse social do equipamento, mas não é o que acontece, o que assistimos é o terror do Estado sobre o cidadão, com o precendente que está se abrindo com esses eventos, em qualquer momento o Estado pode violar o direito de moradia, pensamento e expressão das pessoas, tudo em troca de quinze dias de farra, e enquanto isso o mundo dá risadas da nossa ignorância, vendo o peripatético presidente do COB com aquele riso cadavérico desfilando nos eventos como um papagaio de pirata, a imprensa dizendo amém a tudo.
Temos que impedir que os eventos aconteçam, as obras que estão sendo feitas no momento, em sua maioria são de infra-estrutura que JAMAIS poderiam estar contigenciadas a um evento, pois isso no código de defesa do consumidor - somos consumidores do estado, certo? Pagamos e recebemos serviços em troca - é venda casada, não podemos receber obras viárias importantes para desafogar o trânsito da cidade só porque vamos receber Copa e Olimpíada, isso é obrigação do governo de fazer, mas só o faz porque tem uma desculpa para arrancar mais dinheiro dos cofres públicos e direcioná-los indevidamente para obras inúteis e superfaturadas.
E ainda por cima da forma que estão sendo feitas, destruindo o tecido urbano, desalojando famílias. Quem diz que essas pessoas são egoístas, que o interesse privado não pode se interpor ao público, é porque está escondido no quentinho de sua casa, com dinheiro no bolso e tendo pra onde ir, aquelas pessoas que foram desalojadas para passagem das obras moravam há décadas nesses lugares e foram postas na rua junto com entulho, como se não valessem nada, não há uma mínima fagulha de respeito a essas pessoas, quem está dando essas ordens está escondido atrás de uma mesa dentro de um escritório da prefeitura bem longe dessas pessoas, isso está acontecendo agora enquanto escrevo este texto, e vai continuar acontecendo até 2016, e a julgar pela impunidade que a prefeitura vem tendo, isso vai continuar no futuro criando uma total falta de segurança jurídica de se viver nessa cidade.
O Rio de Janeiro é uma cidade muito antiga, 400 anos não são simples de administrar, a cidade tem vários núcleos históricos, Campinho era um desses, foi arrasado, ironicamente só sobrou uma placa indicando "Caminho Imperial" "Capão do Bispo", aquele lugar era o entroncamento entre rotas importantes da colônia e do império, e foi arrasado sem nenhum estudo histórico, para a prefeitura, se não está na Zona Sul ou no Centro, não existe, por isso esse desprezo com a população da Zona Norte, que vem sendo tratada como entulho, populações sendo removidas em vez de reassentadas, como deveriam ser as pessoas, que, acima de tudo, são cidadãos pagadores de impostos.
Já assisti esse filme antes, em 2007, e a continuação dele (trilogia? 07-14-16?) não será bonita de se ver.
quarta-feira, 22 de junho de 2011
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