Ontem passei pelo entorno do estádio do Maracanã por volta de dez e meia da noite, de ônibus, e vi o cenário de caos instalado: Operários trabalhando debaixo de chuva as calçadas destruídas, cheias de equipamentos e entulho, concreto sendo despejado debaixo às pressas para fazer calçadas sem as árvores que há décadas estavam ali dando sombra e regulando a temperatura da pista de caminhada que não existe mais, o Júlio DeLamare sitiado por tapumes, a estátua do Bellini isolada por uma cerca com uma calçadinha ridícula de mosaico vagabundo que em poucos meses estará toda esburacada, o Célio de Barros sitiado por retroescavadeiras ostentando marcas do consórcio enquanto na parede do estádio estão amareladas fotos dos grandes atletas do passado e a frase "centro nacional de Atletismo", não mais.
Onde estava a pista em que atletas de todo país e até do exterior vinham treinar e competir? Hoje só tem entulhos e máquinas, nem mesmo o entorno que antes era frequentado por pessoas que faziam suas caminhadas matutinas e vespertinas existe mais, e talvez nunca volte a existir, já que o destino daquele lugar é virar um centro comercial, com lojinhas pra rua, o que não combina com atletas correndo e treinando. Naquele complexo esportivo havia pessoas que dependiam dele, idosos que faziam suas atividades físicas, crianças deficientes, havia projetos sociais, histórias destruídas pela ganância e ignorância dos governantes.
É um Estado que agride pessoas em nome do lucro fácil, é mais fácil vender a cidade do que administrá-la, mais fácil deslocar os cidadãos do que integrá-los à sociedade, é tudo fruto de um egoísmo e de uma sordidez sem tamanho.
Até quando, meu Deus assistiremos a isso impávidos? Quando viadutos e estádios caírem sobre nossas cabeças ou então uma retroescavadeira entrar pela sala porque sua casa está no caminho de uma obra sobre a qual nem você nem a sociedade foram consultados, mas que interessa a alguém porque ela será superfaturada e dará muito dinheiro a algumas pessoas que estão no poder, ou sempre estiveram puxando os cordões de pseudo-governantes pulsilâmines, que têm na mão o poder que não exercem em nome do povo, preferindo vendê-lo para quem paga mais.
Não é a falência do estado apenas, é a falência dos homens públicos, é a falência da sociedade, não é um estádio que rui que será o estopim disso, já estamos nisso faz tempo, mas a água ainda não bateu na bunda pras pessoas despertarem, quem sabe mais uma tragédia, mas uma obra mal-feita, até quando a imprensa vai esconder, cooptar e maquiar os fatos? Até quando o gado vai aceitar ficar atrás da cerca?
quarta-feira, 27 de março de 2013
Assinar:
Postagens (Atom)