Há algum tempo, ouvi uma frase do Eduardo Paes que me deixou
com a pulga atrás da orelha: a famosa "tenho
duas agendas", em que o prefeito dizia que tinha uma prioridade para o
subúrbio e outra para a zona sul, como se fossem duas cidades distintas que não fizessem
parte do mesmo tecido urbano.
Ao ser perguntado certa vez se andaria de BRT ele respondeu:
"Eu sou prefeito, tenho carro, eu fiz isso aí pra pobre".
O prefeito adora colocar nas suas frases termos para
desqualificar e rotular as coisas e as pessoas, como se tivesse necessidade de
organizar a cidade em patamares sociais em que para cada um tem um tipo de
comportamento administrativo diferente.
Essa postura demonstra, primeiro de tudo, um claro desprezo
à pluralidade social do Rio de Janeiro, aspecto que o torna único entre as
cidades brasileiras, e é sua característica marcante.
Um exemplo foi dado na entrevista para a Band News quando
ele diz que o "burguês" pode pagar plano de saúde e escola
particular, enquanto o "pobre"
tem que se contentar com a escola pública, demonstrando um desprezo pelo
processo educacional, que tem que ser
igualitário para todas classes sociais.
Ao fazer tal distinção, Paes reforça seus próprios conceitos racistas e de
determinismo social, considerando a
educação apenas como um serviço utilitário, sem nenhuma contrapartida pedagógica,
ou principalmente, de enriquecimento pessoal através do estudo.
O prefeito coloca a cidade dentro de um projeto administrativo
que visa apenas o lucro e a otimização de resultados, descartando-se o fator
humano, como se para os "pobres" a melhor coisa a fazer fosse
desumanizá-los, para não ter que olhar para seus dramas cotidianos, tais como o
transporte, lazer, saúde e educação.
O prefeito não tem interesse em entender a cidade e seus
problemas, ele criou um conjunto de soluções que só ele sabe a quem atende,
soluções dadas de cima pra baixo, sem ouvir a população, que quando se
manifesta contra algum ato, a reclamação é logo desqualificada como sendo
"ato político da oposição".
Toda a crítica dirigida a ele é mal recebida, porque o
prefeito se coloca como um grande administrador, quando na verdade não passa de
um gerentinho de obras prontas, que quando é chamado para resolver problemas, ouve, mas não acata, e quando o faz é sob
forte pressão da opinião pública e da mídia.
O prefeito, ao ser entrevistado seja por quem for, tenta
desqualificar seu interlocutor dizendo que ele é igual ao entrevistado,
colocando-o no mesmo patamar sócio-econômico-cultural e oposto ao povo. É como se ele dissesse:
"o que você está fazendo aí lutando por uma causa que não te afeta? Fique
do meu lado e esqueça esses pobres aí".
Talvez ele seja o pior prefeito em todos os tempos da nossa
cidade, não pelo que fez, o que já é muito ruim, mas pelo que pensa, e,
principalmente, por tentar mudar a cidade de uma forma que não está
melhorando-a, mas sim desfigurando-a de forma irremediável.