terça-feira, 28 de outubro de 2008

A conta que não fecha

Faz 48 horas que eleição carioca foi encerrada, e ainda não foi digerida.

Basta andar pelas ruas, o silêncio das pessoas, uma certa irritação no ar, a impressão coletiva que nos fizeram de palhaços nos persegue em todos os cantos, nem os que votaram no vencedor estão comemorando, como se tivessem medo ou vergonha de terem participado de uma patifaria sem precedentes da história da política brasileira.

A primeira coisa que nos salta aos olhos é a questão da abstenção: como pode quase um milhão de pessoas, quase 1/4 do eleitorado, ter deixado de votar em uma eleição cuja a polêmica estava estampada em toda a cidade, que como em uma novela a cada dia se esperava um novo desfecho, um novo escândalo, envolvendo panfletos apócrifos, agressões e metiras generalizadas?

Muita gente, inclusive eu, apostou que Eduardo Paes teria sua candidatura impugnada, quando uma Kombi carregada de santinhos e folhetos apócrifos, faixas e cartazes de um pretenso movimento "sou suburbano" foi encontrada, depois a tentativa de agressão ao Gabeira em frente a um shopping na Zona Oeste, declaração de que iriam fazer e acontecer caso ele aparecesse em algum lugar.

Mas nada aconteceu, passamos três meses ouvindo propaganda do TRE para que observássemos os candidatos, Paes era um compêndio de desobediência às leis, praticamente só não praticou agressão física com as próprias mãos, mas seus seguranças sim.

O nível de gangsterismo de sua campanha foi tal que várias comunidades da Zona Oeste ficaram reféns de seus militantes, no dia da eleição eles iam de casa a casa falando barbaridades do Gabeira, ou circulavam com um carro de som dizendo que a comunidade "estava fechada" com o candidato Eduardo Paes.

Um fato isolado seria suficiente para levantar suspeitas do TRE, seria, mas nem as 25 toneladas de material de propaganda irregular, nem o material apreendido na gráfica com recibo para o PT foram suficientes para tanto.

Aí eu pergunto, adiantou fazer propaganda? Colocar a bonitinha da Lavínia Vlasack grávida falando aquelas coisa pra gente?

O sentimento do povo é de total falta de segurança jurídica, não se consegue punir um candidato nem quando no próprio dia da eleição ele invadia seções eleitorais para intimidar eleitores.

Acho que o povo quer justiça, se a diferença entre os dois candidatos foi de apenas 55 mil votos em um universo de 4 milhões de eleitores, e destes 1/4 não votou, a idéia de que estamos sendo governados pela escolha de uma minoria é verdadeira, e perigosa.

O Movimento Pró-Democracia nasceu no exato momento em que os resultados finais eram divulgados, e agora 48 horas depois, seu site no Orkut tem mais de 8 mil pessoas participando.

Não sei se até sexta-feira, dia da passeata que está marcada, qual será o rumo do movimento, mas até agora percebo uma nítida rejeição a qualquer movimento político ou sindical que queria se aproximar deles.

Acho justo, afinal de contas estaremos lá para pedir justiça não para servir de escada para movimentos político/partidários/sociais que durante a campanha suja de Paes não fizeram nada, sequer formalizaram um mísero protesto contra a forma como a propaganda vinha sendo feita.

O povo resolveu tom ar seu destino pelas próprias mãos, e nada mais justo que os jovens para liderar isso.

Muitos militantes do candidato Fernando Gabeira estarão lá, mas não se enganem, não é um movimento por ele, é contra o que fizeram com ele, essa é a principal diferença.

Mesmo que o TRE reconheça que houve irregularidades e impugne a candidatura de Paes, temos que considerar que ele não venceu, porque boa parte dos votos conseguidos por Eduardo Paes foi feita de uma forma ilegítima, pois foram conseguidos atraves de mentiras e ameaças.

Há centenas de casos relatados no TRE sobre essa eleição, e também há jurisprudência nesse caso, alguns prefeitos já perderam sua candidatura, como o caso do prefeito de Barra Mansa, que ganhou mas não vai ser diplomado porque utilizou a imagem de um UPA em seu horário eleitoral.

Bom se ele usou uma declaração sobre a UPA, o que dizer do Paes, que não só falou delas o tempo todo como também fez uma série de propagandas dentro delas, e pasmem, no melhor estilo Odorico Paraguassu o Governador Cabral inaugurou várias em plena campanha?

E o restaurante popular do Méier, inaugurado também na semana final do segundo turno, que tinha um comitê eleitoral do outro lado da rua e que ficou cercado de bandeiras e cabos eleitorais do Paes?

No momento que escrevo, imagino o que o candidato eleito pode estar preparando para impedir a passeata de sexta-feira, pois teme que o rastilho se acenda e exploda embaixo de sua cadeira, porque ele está ilegitimamente eleito, porque não nos representa, ele sequer representa os que o elegeram, pois ficou o segundo turno inteiro indo nos grotões dizendo que era suburbano para ganhar seus votos, e agora irá lhes dar de presente um lixão em Paciência, porque quem dá a licença ambiental é o Estado e isso já foi resolvido e assinado pelo Governador Cabral.

Aliás, o próprio fez uma cirurgia na língua, para a retirada de um tumor, e o fez em um hospital particular, pois se fosse em um hospital público ele a teria arrancada a sangue frio.

Acho que o momento não é mais para meias-palavras ou atitudes politicamente corretas, o TRE não aplicou as leis eleitorais no candidato Eduardo Paes, e o próprio sabe disso, logo, queremos saber o que aconteceu, porque as sanções devidas não foram tomadas.

O TRE tem até 17 de fevereiro para entrar com o processo, pois as pessoas querem respostas, está claro que a algo está faltando, uma posição final, uma consideração que seja, se nada acontecer até lá e ficarmos assistindo inertes a esse total desrespeito às leis, estaremos abrindo as portas para que as próximas eleições os cabos eleitorais saiam às ruas com facões nas mãos perguntando "manga curta ou manga comprida?".

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